CALDO DE CANA COM PASTEL FOI O NOSSO JANTAR ROMÂNTICO - baseado em um trecho de uma canção.


Beleza... 
Plástico, papel, latinhas de sardinha, garrafas, pets, mais papel e mais plástico. Desse tipo nem pra reciclar serve. O sol está calmo hoje. Muito papel riscado, sujo, olhe isso, papel higiênico, absorventes, "tudo
solto", puta merda. Olha aqui, tem uma caixa dessas de sanduíche... vazia. Tem uma gaveta cheia de saco ali em cima, vem, vamos mexer nela. O casal subiu a montanha de lixo e foi remexer mais lixo. Nenhum alimento até então. Três caminhões já despejaram o material no campo, mas até agora nenhuma latinha, nenhuma fruta, nem sequer uma sobra de quentinha. Nada. A fome vem rondando como quem espreita pra roubar. vamos embora, hoje já deu. Vamos passar em Carlinhos e chutar uma pedra, essa careta já tá me incomodando. O sol bondoso logo nos deixou molhados de suor e com sede. Nem sei se a fome veio primeiro, mas nada estava bem, a não ser aquele sol maneiro. Carlinhos estava sentado embaixo daquele pé enorme de jambo, que na safra nos livrara da fome, mas hoje é só folha seca. E aí Carlinhos qual é o bicho de hoje? Carlinhos é cambista, tem uma banca de jogo de bicho e vende um bagulho pros "noiados" assim como nós, eu e a Janne. Tenho um serviço pra vocês dois. Demorou menino, pra onde vamos dessa vez? Esfrie a cuca aí com esse cachimbo... entrem ali no beco e voltem aqui  depois que a gente conversa. Peguei o cachimbo em cima do muro e um saquinho com três pedrinhas de craque. Janne pediu um cigarro pra um senhor que veio fazer sua fezinha. Sentei no chão e quebrei a pedra, Janne se ajoelhou com o careta acesso - ela estava suando frio - eu estava com fome, sede e tremendo um pouco... pus a pedrinha no cachimbo e traguei... duas, três, quatro e pimmmmmmmm descansei o corpo e entreguei o cachimbo. Janne tossiu forte, com o careta na mão tacou fogo em outra pedrinha... duas, três, quatro, coff, coff, coff, sentou e sorriu. A fome se foi. A sede sumiu, fumamos a outra pedrinha e nos beijamos. Ela beijava bem demais. Olhei seus olhos verdes e prometi a mim mesmo que lhe daria um jantar romântico qualquer dia desses. Ela sorria e seus olhos acompanhavam o seu estilo e o dia inquieto, quente e maneiro agora,cheirava bem. Saímos do beco e fomos ter com Carlinhos. Me levem essa encomenda no Mercado velho, procurem por Tilas, um relojoeiro de lá e me voltem aqui com a metade do que ele lhes der... só quero a metade, o resto é de vocês. Pegamos o bagulho e fomos andando pelo meio do dia. Chegamos na praça e vimos a viatura do outro lado, nos olhamos, sorrimos e fomos de encontro a ela. Sargento Luis estava limpando sua 45 e fumava um baseado cheiroso. Pra onde vão os pombinhos? Vamos no mercado-velho. Ele esticou o baseado e Janne pegou. Saímos fumando pelo meio do campo de futebol... a areia quente. No mercado-velho o cheiro de almoço e de birita tomava conta de cada canto e parede. Tilas nos recebeu com uma dose de cana, uma não, duas. Eu virei a minha logo. Janne pediu um refrigerante. Tilas trouxe uma latinha de coca-cola e nos deu 30 reais.
Fomos na bodega de Nelson e pegamos quatro pedras... passamos a tarde fumando. De noite eu fui deixar os quinze de Carlinhos. Levei Janne no lava-jato e cumpri o meu prometido... sentamos numa dessas cadeiras de ferro, cadeira de bar, e jantamos pastéis com caldo de cana.   

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