CARTAS DE DENTRO DAS MASMORRAS ACADÊMICAS - PRIMEIRAS IMPRESSÕES

      Praga, 12 de Agosto de 1817

       Bom dia querida Anna Belle, espero que esta carta lhe chegue em bom tempo e que seus sentimentos estejam todos aguçados e fervorosos para saber as boas novas que estimo muito em vos descrever. Hoje estamos aos décimo segundo dias do mês de Agosto de 1817 e a nossa calorosa e agitada Praga encontra-se sempre linda, limpa e entre o mais belo e enigmático cartão postal deste lado do Hemisfério. As árvores daqui são plantadas nas calçadas e ficam perto das fiações elétricas, uma coisa que me chamou a atenção é que não são muitas as árvores frutíferas. Comigo ainda estão as lembranças de nosso último instante na estação. Seus olhos esverdeados e pequenos como uma joia rara passeiam para mim  dentro deste pequeno cubículo onde moro e fico a escrever-te na Avenida Pessoa Ramos no bairro das coabinais quase no centro da cidade, mas apenas à quarenta minutos da Faculdade que eu costumo chamar carinhosamente de "escola". As ruas, tanto aqui na cidade quanto na "escola"são de paralelepípedo e as calçadas bem largas, diferentes de nosso querido interior, onde o chão é de barro e não há calçadas. E é sobre ela, a escola, que quero lhe descrever nesta e em outras breves cartinhas meus primeiros olhares, minhas primeiras impressões sobre este novo e revigorante universo. O universo acadêmico público e gratuito. A escola.
        Devo-lhe confessar que na noite que fui para a primeira aula eu estava muito nervoso. Não sei de onde me surgiu aquela sensação de sufocamento, frio nas mãos, uma agitação mental, olhe, eu estava em pânico. Foi em uma Segunda-Feira quente do verão de Fevereiro e como eu havia lhe prometido eu estava em abstinência do álcool. Mas ainda não havia largado o cigarro.
       Na sala de aula haviam duas mulheres de boa aparência sentadas a frente de uma turma de mais ou menos 40 pessoas, jovens e adultos. Elas estavam explicando como funcionavam as micro-instituições que formavam a macro-instituição Universidade, ou seja, elas estavam nos apresentando os departamentos. No nosso caso o departamento seria o de Ciências Sociais. E é claro que depois dessas apresentações a turma foi se apresentando. Nessas alturas eu nem conseguia respirar direito. Pra começar cheguei um pouco atrasado, o ônibus pegou um engarrafamento devido as obras em construção na estrada. Sentei-me em uma pequena carteira de madeira que mal cabia minhas pernas, coisa de escola de ensino médio, sabe aquelas carteiras pequenas com mesa na frente e embaixo um vão para guardar os cadernos, bem, nessas não tinham esse vão, mas eram e são iguaizinhas. Bem conservadas é fato, mas desproporcionais para adultos. Bem, creio que com a minha reeducação alimentar que deve se seguir até Dezembro, eu ainda venha a caber bem em uma dessas mini-carteiras escolares. (...)  

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