O beco estava ali. Da cozinha para o quintal, uma questão de dez passadas pra chegar no quintal. Todo dia passamos por este beco umas dez vezes. Já foi um sebo e uma copiadora. A pá estava no banheiro dos fundos junto com outras tranqueiras. Quando a chave do trabalho gira no automático não tem jeito. Resolvemos fazer jarros de concreto. Assistimos no YouTube alguns artesãos e logo sentimos confiança. Areia penerada cimendo um balde e uma pá. Os dias se passaram e a pá foi ficando esquecida no meio do beco. Certo dia de tarde depois do almoço reparei naquela pá...
Depois disso tudo ficou bastante claro. Subi o morro de dunas antes das luzes se acenderem. Logo que terminei desci. Havia a aproximação do natal e com isto o indulto natalino foi aceito. Três mil presidiários nas ruas. Era só uma questão de tempo. Nunca fez frio no natal em natal. A grande árvore iluminada e a alienação acelerando. Minha prima chegou e foi me visitar. Transamos e depois passei pelo beco e peguei a pá.
Quando desci do morro notei que havia deixado a pá. Fui sair do carro e a pá caiu aos meus pés, quase, por fora. Não houve dúvidas. Estamos quase no carnaval. Estou em Pernambuco. Olinda é a minha praia. Estamos numa casa alugada. Seis casais. A festa da chegada da vacina. O melhor carnaval. Do lado de fora da casa eu vi um quarto. Fui lá. Senti uma energia correndo meu corpo. Fiquei quente sem mais nem menos. Acendi a lâmpada vi um freezer, um jornal velho em cima de uma messa de ferramentas. Não vi nenhuma pá. Apaguei a luz e fui decapitado minha cabeça rolou até a mesa bateu em uma das pernas e com a pancada fechei os olhos.
A noite estava fria e sombria. Alegre e esperançosa. Todos bebiam cervejas, vinhos, outros fumavam maconha. Rolava chet Baker. Eu estava segurando minha cabeça. Atravessei a sala e peguei a pá. Todos morreram.
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Puro orgulho
Foi m3smo para me mostrar
Avisem aos homens de bem
Um vagabundo a menos à vagar
Cara d
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