PREVENÇÃO CONTRA CÂNCER EM ALTA

Daniel Castellano/ Gazeta do Povo / O oncologista Murilo de Almeida Luz acompanhou cirurgias de câncer com o auxílio de robôs no Canadá. Voltou a Curitiba para ajudar na implantação do equipamento no Hospital Erasto Gaertner

O oncologista Murilo de Almeida Luiz.


SAÚDE

Mudança de hábitos previne diferentes tipos de câncer

Avanços da ciência ajudam a decodificar a doença, que pode ser desencadeada por fatores genéticos e por costumes rotineiros

Publicado em 25/09/2011 | PAOLA CARRIEL

Dicas

Conheça alguns hábitos que devem ser adotados para prevenir o câncer:

- Mantenha o peso e o Índice de Massa Corporal dentro da média. Isso ajuda a prevenir câncer de esôfago, cólon e pâncreas, além de evitar outras doenças, como diabete e problemas cardíacos.

- Faça atividade física por pelo menos 30 minutos diariamente, o que mostra-se eficiente na prevenção de câncer de intestino, mama e endométrio. O exercício ajuda a fortalecer o sistema imunológico.

- Evite fast food e bebidas açucaradas. Prefira refeições mais leves. Alimentos de alto teor calórico contêm mais gordura e açúcar, o que auxilia no ganho de peso.

- Diminua o consumo de carne vermelha e carne processada. A indicação é comer menos de 500g por semana de carne vermelha, associada ao desenvolvimento de câncer de intestino.

- Reduza bebidas alcoólicas. Para quem tem o hábito, homens não de­­vem tomar mais de duas doses por dia e mulheres apenas uma. Há rela­ção do álcool com câncer de boca, faringite, laringite, esôfago e mama.

- Não fume. Até um terço dos cânceres pode estar relacionado com o tabagismo. O tabaco é responsável por cerca de 90% dos cânceres de pulmão.

- Limite o consumo de sal. O sódio pode ser uma das causas prováveis do câncer de estômago.

- Faça check-up anual. Quanto mais cedo é detectado o câncer, maiores as chances de cura. Estima-se que a sobrevida chegue a 90% quando a doença é descoberta no início. Exames de rotina podem ser o primeiro indicador.

Fontes: World Cancer Research Fund (WCRF), Antônio Macedo, Luiz Antônio Negrão Dias e Murilo de Almeida Luz.

Depoimento

“O mais difícil foi contar para a família”

Descobri que tinha câncer de mama em setembro de 2000. No final de um dia de trabalho, fui tomar banho e percebi que minha roupa estava manchada de sangue. Segundo o médico, tive sorte porque é muito incomum a mama sangrar. No dia seguinte, marquei uma consulta e depois a mamografia.

Nessa época eu já trabalhava como voluntária junto a uma equi­pe que apoiava pacientes com cân­­cer, mas, como ia ao médico anualmente, não dava atenção para o autoexame. Na clínica onde eu era voluntária, um dos médicos pediu para acompanhar o caso e, após uma biópsia, descobrimos que o câncer estava em um estágio avançado. Fiz cirurgia para retirar a mama e recebi o “kit” completo: fiz quimioterapia e radioterapia, além de sequelas, como perda dos cabelos.

O diagnóstico foi difícil. O mundo desaba e não sabemos que caminho tomar. O mais difícil foi contar para a família, porque a doença ainda é um tabu.

A maior mudança depois do câncer foi a minha percepção da vida. Como a doença era sinônimo de morte, comecei a enxergar a vida diferente. Passei a dar mais atenção a mim mesma, me cuidar e me ouvir mais. Vi que não precisava trabalhar 16 horas por dia, poderia viver com mais vontade e alegria.

Maria Cecília Palma, advogada.

A aceleração das pesquisas sobre o funcionamento do câncer nos últimos 15 anos permitiu que a ciência avançasse na compreensão de como é possível prevenir a doença. Cerca de 20% dos casos podem ser evitados com medidas simples, como a mudança de hábitos alimentares, segundo uma pesquisa da organização não governamental World Cancer Research Fund (WCRF). Os outros 80% estão relacionados à interação e comportamento dos genes e a fatores ainda não estudados.

É consenso que mudanças de hábito são capazes de diminuir o número de ocorrências e há linhas de estudo que trabalham com o desenvolvimento de vacinas e sequenciamento genético, que podem ser capazes de evitar o aparecimento de células cancerígenas.

Pesquisas científicas mostram que existe relação entre alguns cânceres e hábitos, os mais citados são o fumo e a obesidade. O tabagismo, por exemplo, está ligado ao aparecimento de um terço dos tumores. Segundo a WCRF, todos os anos 2,8 milhões de novos casos estão ligados à falta de atividade física, dieta incorreta e sobrepeso. E o número deve aumentar consideravelmente na próxima década.

Apesar disso, se houver mudanças no comportamento, aliadas às descobertas científicas, o câncer poderá deixar de ser, no futuro, uma doença com significativo grau de mortalidade. É provável que muitos sejam evitáveis e que nos demais haja ampla sobrevida aos pacientes.

“O câncer é uma doença da vida moderna. O ser humano se tornou sedentário, ficou estressado, vive por mais anos e passou a ter uma dieta rica em carboidratos e comida processada”, diz o médico do Hospital Albert Einstein, Antônio Macedo, especialista em cirurgia oncológica gástrica. Ele conta que há dez anos a taxa de câncer de esôfago era de 4 a cada 100 mil, valor que hoje chega a 24.

Com ajuda da ciência, se descobriu que a atividade física pode auxiliar a diminuir a ocorrência de câncer de intestino e que carnes vermelhas e processadas podem, ao contrário, aumentar o risco. Também há comprovações de que gordura corporal amplia o número de tumores de esôfago, pâncreas, mama, rim e endométrio.

Futuro

Hoje o câncer é a doença mais estudada no mundo e produz o maior número de artigos científicos em revistas especializadas. O tempo entre as descobertas científicas e suas aplicações na população em geral diminui cada vez mais.

Um exemplo claro de como isso ocorre é a prevenção do HPV. O médico Júlio César Teixeira, da Unicamp, coordena um estudo sobre vacinas contra o HPV. Ele afirma que o vírus está relacionado 100% ao câncer do colo do útero, 90% ao do canal anal e 40% aos tumores de pênis, vulva e vagina, além de relação com tumores de mama e leucemia.

Em 2008, um grupo de cientistas de vários países criou o Con­sórcio Internacional do Genoma do Câncer para auxiliar no sequenciamento genético de mais de 50 tipos de cânceres. O objetivo é comparar o DNA das cé­­lulas doentes e sadias de uma mesma pessoa para verificar o que de­­sencadeou o tumor. Ano passado, eles anunciaram na revista Na­­ture que o objetivo é ter 25 mil ge­­nomas diferentes até 2018. Na in­­ternet, o grupo tem um portal com acesso livre a dados de 2, 8 mil tumores.

Além do fator genético, questões ambientais (estresse, condições de vida, alimentação, etc.) podem ser o grande definidor no aparecimento ou não do câncer. Balancear todos estes fatores para fazer um diagnóstico correto é o grande desafio para o futuro.







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