CONTOS DE UMA CRIANÇA QUE NÃO QUERIA CRESCER
(...) sempre que me sobrava uma oportunidade eu procurava "fazer coisas" que eram proibidas durante o dia naquela normalidade medonha. estas oportunidades vinham sempre em dias de feira ou de viagem para a casa do avô da parte de pai. toda vez que era sábado ou que minha mãe resolvia ir passar o dia na casa de sua irmã eu já articulava uma dor, um mal estar, e resolvia ficar com o consentimento dela. (hoje eu sei que isso já parecia um tipo de depressão, ansiedade e então uma doença) a tv era somente minha. todos os brinquedos eram meus e toda a geladeira também.
eu sempre preferi ficar em casa.
a rua não me mostrava atrativo algum.
o que quer uma criança de sete anos na rua?
a rua era de barro. uma poeira da mulesta.
a casa ficava perto da BR101 (...) o mundo era muito estranho.
de tarde eu me deitei na calçada do quintal e fiquei olhando pro céu. Estava azul claro e quente. vi nuvens de todas as formas e vi também urubus. Os urubus são os lixeiros do mundo. Mentira!
Os urubus são aves. Mas eu nem pensava nisso. ficava deitado na calçada olhando o céu
as paredes dos muros
o chão de barro e pedra
o gradeado da janela,
o vento sacudindo o varal
Os urubus estavam muito alto. As vezes eu perdia um de vista. passava um tempão caçando o bicho apenas olhando o imenso desfiladeiro azul. um importante momento neste ofício de atitude blasè.
Eu vivia sem ver sentido na vida.Ainda hoje a vida me é travessa.
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