TUDO UM MAL ENTENDIDO

       

        Quem poderia imaginar que em meio uma das crises de afazeres com a minha mãe, responsabilidade minha, Eu encontraria um Oasis de complexidade da história como ela é "vivida", "realidade" antes de ser contada e transformar-se em qualquer outra coisa menos naquele momento. Dentro de uma das várias etapas da alienação que nos sobrecarrega a violar nosso prazer e sem o tê-lo, encontrar na dor do chicote nas costas uma maneira natural de educação e o estalar no ar uma sinfonia de anjos, glorificando, sendo gratos por poder sofrer e enricar mais ainda o filho da puta que se diverte em um iate em algum lugar do Caribe. Mas quem quer saber dessa gente? 

       Eu nunca comprei Caras. O sol estava bem ameno no dia ensolarado do mês de Outubro, o Rosa, e no Uber indo resolver coisinhas numa galeria de vendas, curtia o bom dia 247 e a lenga lenga nos contextos dos candidatos do RJ e SP. O Psol e o PT antes de encontrar o caminho para suas filosofias percorrerem unidas querem resolver cada um pelo seu atalho. Triste realidade humana? Nunca se sabe. Na descida do Uber a galeria estava fechada. Passamos uma hora jogando conversa fora embaixo da passarela esperando a hora certa para abrir. Uma senhora que vendia coisas estava armando um guarda sol nas grades da passarela. "Eu faço isso todo dia sozinha meu filho, pode deixar, - ofereceu uma cadeira pra gente, comprei uma água - foram 45 minutos de muita gentileza dela para conosco. Observei com carinho seu trabalho certeiro em enrolar as cordas, os elásticos, propagandas, e em pouco mais de quinze minutos estava armada a sua banquinha. Uma típica sacoleira. Pele enrugada, chapéu que cobria o pescoço atrás. Calça jeans surrada, pisada entre a sandália e o pé. Pelo jeito do corpo franzino e pouco envergado para frente demonstrava o peso da labuta, das sacolas, das viagens, dos calotes, da idade. Do outro lado pessoas se amontoavam. Ali é lugar de funcionário. O portão abriu. Nos despedimos da gentil senhora. Fizemos compras de coisas para o trabalho de artesanato de minha esposa, Deise. Fomos para a fila do caixa e percebi que havia uma fila se formando, logo questionei com o caixa a possibilidade de outro para não formar aglomeração e para o bom andamento do comércio, algo muito natural, mas não foi bem isso que rolou. Tive que pedir ao caixa que chamasse pelo rádio, na minha frente, para ele saber que o seu bajulado com o patrão não cabia nesta hora.  Pagamos e nada de outro funcionário. Uma senhora em idade avançada e com mobilidade limitada e sua filha pediram passagem estávamos na saída da loja. Do outro lado um cara perto de um portão que dava para o estacionamento me chamou a atenção. Ele estava de máscara, bermuda, camiseta e sandálias, um jovem branco comum. Mas fiquei intrigado. Quando saímos a senhora e a provável filha ainda estavam caminhando próximo pelo mesmo corredor. O cara estava escorado no meio do corredor com um gesto estranho na boca e que mesmo de máscara notava-se sua ansiedade, pensei, vai assaltar a senhora e a moça, quando passei por perto dele ele se mexeu em direção as mulheres pelas minhas costas eu me virei como se num instinto e ao perceber que havia me enganado pois todos pararam, e o constrangimento foi óbvio, perguntei, você está com elas? Pronto, foi o estopim para uma série de bate boca. Ele não esperou nem meu pedido de desculpas que se perdeu no eco de nossas palavras desconexas e justas. O mal entendido prevaleceu. Na visão dele eu o julguei como um marginal e na sequência de seu discurso de ira eu passei a ser o vagabundo, o que eu fiz, tirei a máscara e perguntei porque ele estava tão nervoso. EU SEI QUE JULGUEI ANTECIPADAMENTE, MAS QUEM NÃO DESCONFIARIA DAS CENAS COMO OCORRERAM DO JEITINHO QUE EU VI? Não houve arranhões físicos. Apenas um pedido de desculpas que ficou perdido num vasto mal entendido.  

Ganhei um sapa-tênis e um tênis para caminhar. Saldo positivo.

 

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