O que é Educação- Carlos Rodrigues Brandão
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES.
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO/ 2019.1 N35
O que é Educação- Carlos Rodrigues Brandão
Josemir Medeiros da Silva
Profª: Francisca de Paula Oliveira Departamento de Ciências Sociais
O
professor Brandão nos diz que a educação está em todo lugar, no cotidiano das
pessoas e das formas mais variadas. Chamar a atenção para a questão se há uma
educação ou várias educações é um pretexto para sua análise crítica. Em suma
ele cederá espaço para que cada leitor trace seu ponto de vista, reflita sobre
suas argumentações e descubra ao seu redor a vasta e interminável aventura de
ensinar, aprender e ensinar-e-aprender.
É a vida que nos ensina aonde a educação
acontece. Com os bichos a coisa é diferente por que eles não conseguiram
atingir o nível de transformar a natureza assim como o homem fez. Trabalhando e
usando a consciência. O filosofo Ludwig Feuerbach nos diz também em sua obra A Essência do Cristianismo que a
distinção entre os seres humanos e os animais é a consciência. A filosofia
atenta ainda questionaria: será que é somente essa? Ao professor Brandão coube a
observação sobre a educação entre outras sociedades (tribais) e constatar que
há uma continuidade, uma evolução e que o sistema de professor/aluno em uma
escola formal não é o único modelo e nem tão pouco absoluto de transmitir
ensinamentos e ainda mais de aprender tais ensinamentos. Observando outras
sociedades e não constatando que a educação compreendida como formal não era
prática entre os seus, ele pode afirmar ainda que tal formalidade não existia,
ela, a educação, de alguma maneira se fazia presente entre os seus, e isso foi
um achado para a corrente sociológica. Então como ela acontece?
A “endoculturação” é vista pelo
professor como um processo que socializa em uma perspectiva pedagógica total.
Ou seja, é um processo de formação do adulto nas suas relações durante a
aventura da vida. Pelo visto é uma transformação do sujeito natural em pessoa. E
para exemplificar com louvor o exposto, nosso erudito nos apresenta a figura do
oleiro, o homem artesão que manualmente prepara sua obra. Aqui desconfio das
analogias por coincidir muito bem com uma passagem do cristianismo que também
se faz por esta ilustração para fazer entender ao fiel, ao servo, como trabalha
o seu deus. O que não nos causa espanto, sim, pois a educação é, segundo o
autor, uma rede complexa de tentáculos variados.
Assim, nosso autor identifica a educação
nas sociedades tribais distinta da formalidade das escolas contemporâneas dando
significado ao que realmente é relevante para os seus nativos. Ao afirmar que é
pelo conflito de interesses que vai
surgindo a transformação da educação em ensino o professor constata traços
análogos as outras sociedades como a divisão do trabalho e divisões sociais
apoderados por sujeitos especialistas que ele chama de processo de hierarquia social. Neste ponto a educação pare a
pedagogia.
O autor também anuncia o surgimento dos
desiguais tipos de categorias de sujeito: o sacerdote, o rei, o guerreiro, o
professor, o lavrador. Surge a diferença entre o homem comum e o iniciado. Esta
diferença nos parece proposital usado pelo autor no complexo processo de
dominação sofrido e também exercido pela humanidade. É no princípio das
sociedades antecessoras da polis grega romana que o professor aponta para a
educação como fenômeno básico fundamental para a evolução da sociedade. Como
“tecne” foram criadas as normas de trabalho, simplesmente, causando a
desigualdade social até hoje mais violenta da história, com o trabalho manual,
para o homem livre ou a escravidão.
A Paidéia é o pleno efeito da educação
para os gregos, o desenvolvimento no sujeito de todo o seu processo educativo,
este começa fora de casa após os sete anos. Entretanto com a divisão social,
entre sábios e escravos, gerando mais desigualdades entre os parias. Os pobres
não acompanhavam o direito a escola, a educação era restrita a poucas pessoas.
Acompanhe a citação de Sólon, legislador grego: “As
crianças devem, antes de tudo, aprender a nadar e a ler; em seguida, os pobres
devem exercitar-se na agricultura ou em uma indústria qualquer, ao passo que os
ricos devem se preocupar com a música e a equitação, e entregar-se à filosofia,
à caça e à frequência aos ginásios.”
Percebemos que a desigualdade era instituída de forma consensual entre os
gregos que mandavam, mas com certeza não o era entre os menos afortunados
escravos ou pobres. Para os latinos a educação passa a ter valor quando
construída em casa, este valor torna-se princípio aguerrido ao tratar da moral.
O homem passou de mero agricultor para ser agora um camponês educado e rico. No
entanto, o ideal da pai- deia é o herói da polis. Na educação romana o modelo
ideal é o ancestral da família, depois o da comunidade. Com o advento do
cristianismo é que vemos surgir as primeiras escolas públicas mantidas pelos
cofres públicos. Este modelo de escola criado por Roma toma conta de boa parte
do mundo de então. Plutarco descreveu como Roma usou a educação para
"domar" os espanhóis dominados: "As
armas não tinham conseguido submetê-los a não ser parcialmente; foi a educação
que os domou."
No Brasil as coisas não são realmente
como dita a lei. Os fins da educação aparecem meramente como algo idealizado,
até mesmo uma ideologia. E assim como antes, hoje, a educação sofre mais um
ataque. Diz o autor, não há liberdade no país, mesmo que ainda respinguem em
nós um pouco da essência desta tão almejada liberdade. Outro ponto apresentado
pelo autor é o caráter elitista da educação. Gerando graças ao sistema político
e econômico um mundo de desigualdades na educação. A escola existe no
imaginário das pessoas e no senso ideológico dos grupos, principalmente os
grupos dominantes. Atualmente no Brasil, há uma forte corrente ideológica que
deseja desmantelar a educação instituição, na escola, propondo para tal a
educação domiciliar e a educação à distância. Se pegarmos até aqui o que Brandão
nos diz, podemos até conceber a ideia de uma educação domiciliar, visto que na
constituição de 1988 é dever da família cuidar da educação, mas também o é,
este dever, do Estado. Mas esta não pode ser a única maneira de pensar.
A sociedade capitalista tornou ao longo
do tempo a educação uma mercadoria. Um valor alto a ser pago. Elitizada, a educação,
deixou descalços, desamparados e analfabetos muitos brasileiros, o professor
Paulo Freire arrojou-se em uma investida heroica e com seu estilo simples e
ousado desenvolveu uma maneira de diminuir esta distância que o mercado
proporcionou. A desigualdade sugere uma nação de alienados e espertos, a
alienação é um tentáculo da ideologia dominante, que abraça o oprimido e o
espreme ao ser ninguém. Na concepção capitalista de educação quem for mais
esperto, por seus próprios méritos, alcançará o seu objetivo.
“(…) o domínio de uma profissão não
exclui o seu aperfeiçoamento. Ao contrário, será mestre quem continuar
aprendendo.” (pág. 82) é com esta
citação que firmo a estrutura desta breve resenha. Por mais que a educação
capitalista, com suas linhas geradoras de desigualdade, suas correntes
ideológicas, seu alto desempenho antissocial, sua nefasta intenção pela
meritocracia, seja o germe de uma máquina destruidora de sonhos e utopias, ela,
em si, a educação, monstruosamente se reprograma na realidade, dentro de cada
ser humano, com a coragem e a autonomia que nos cabe, que sempre nos levou e
nos levará ao grande combate contra o retrocesso e estupidez humanos.
Acreditemos!
Referências:
https://www.escavador.com/sobre/1315077/carlos-rodrigues-brandao (acesso em: 24/02/19 - 15:32)
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O Que é
Educação. cap. 1. Disponível em: <http://www.febac.edu.br/site/images/biblioteca/livros/O%20Que%20e%20Educacao%20-%20Carlos%20Rodriques%20Brandao.pdf> Acesso em: 24 de fev. de 2019
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