Nem sempre rola

Foram dias de muitas leituras aqueles na faculdade. O curso de ciências sociais exigia um ritmo frenético de textos para dar conta. Também era exigido uma disciplina de leitura e interpretação de texto. A disciplina foi ministrada por uma louca. Muito competente, mas cheia de furos no quesito frequência e isso a turma novata não perdoou. Logo fizemos um grau de aproximação e de amizade. Uma noite resolvi trocar um conto com ela por e-mail e ela adorou. Na aula seguinte ela comparou meus textos aos de Henry Miller. Eu fiquei muito lisonjeado. Tudo seguia tranquilamente como deveria ser. Até que já no final do semestre consegui uma carona para deixar ela em casa, ela topou. Nosso amigo que proporcionou a carona foi super gentil e não percebeu que eu estava manipulando sua generosidade. Sim, aquela mulher brilhava demais quando respirava. Seu corpo era poesia e sua voz um sarau. Descemos na portaria do seu prédio. Fiz questão de descer para abrir-lhe a porta. Ela agradeceu e eu tomei a voz para nos despedirmos indo em direção a sua boca, seria um beijo que selaria nossa amizade, mas ela virou a cara de lado. Fiquei puto. Mas respeitosamente entendi. Boa noite. Boa noite, até breve. Foram nossas ultimas palavras.  Entrei no carro resmungando. Até hoje meu amigo pergunta o que houve e eu só resmungo. Teria sido um beijo de juventude. Sim, eu torci por um beijo adolescente. Mas não aconteceu. Não foi aceito pelos deuses. Tudo bem, as coisas nem sempre são como planejamos. Isso é bem verdade.

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