Aquela seleção de românticas

Aquelas tardes eram mágicas. 
O sol quente fervendo lá em cima, algumas poucas nuvens em bandos desfilavam despretensiosas, os pássaros loucos livres, bailavam sem mistérios entre galhos de uma mesma árvore, cantavam, gritavam, estavam vivos, algumas formigas vermelhas, fortes, marchavam no meio da rua, um desfile cívico, era uma boa ideia beber uma cachaça contemplando toda aquela pintura. 
As ruas de paralelepípedo, calçadas largas, postes de cimento armado atados por fios negros condutores da energia, algumas árvores cheias de sombra, protegendo o chão seco e as pessoas... pessoas de bicicleta, pessoas caminhando, indo ou voltando da escola, do trampo, das tarefas do dia, cheios de pensamentos, nas famílias, no cachorro, na amante, na bodega, na feira, no pão, no café. As tardes mágicas geralmente acabavam dentro do meu quarto. 
Eu ainda morava com meus pais e um irmão especial. Meu quarto tinha um inquilino. 
Mas de tarde ele se mandava pra casa de minha tia e eu tirava a sorte grande. 
Meu quarto tinha duas camas de solteiro, uma janela de vidro retangular de quase dois metros, não tinha forro, tinha um abajur de corda pendurado no centro e quadros de rock espalhados pelas paredes, Jimmi Hendrix, Bob Marley, Janis Joplim, AC/DC, Uriah Hepp, Joelho de porco, algumas revistas com notícias de músicas, a Chiclete com Banana e uma MAD, alguns gibis do Homem-Aranha, Recruta Zero e Tex. 
Meus discos ficavam dentro do guarda roupas, fechado, os caras curtiam dar um ganho nos discos sempre que a gente bebia lá em casa, era foda. 
Bem, eu tinha uma vitrola, pequena, um prato, um disco somente, duas caixas de som, também pequenas, que ficavam em cima de uma banquinha de madeira. 
No chão, entre as camas, um tapete artesanal branco, bem confortável, algumas almofadas e um cinzeiro de mármore grande. 
O piso era de taco, bem encerado. 
A vitrola cedia lugar a um gravador preto, Philips, que pegava am, fm e fita k7, eles eram chamados de rádio gravador. 
Esse sempre quebrava o meu galho. 
Uma fita K7 ficava guardada dentro da gaveta para ocasiões especiais. 
As músicas românticas. 
Uma seleção de baladas nacionais e internacionais, as melhores melodias rock and roll para trepar e fazer amor. 
A predileta, é que sempre havia uma com temas de novelas, era a fita  que tinha Twisted Sister, com a canção I believe in You, puta que pariu!  Credence, Led Zeppelin, James Taylor, Rod Stewart, Pink Floyd. 
Entre os nacionais eu gostava de atacar de Djavan, Caetano ou Paralamas e Tim Maia. 
As tardes quentes foram mais musicais do que poemas de merda.  











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