RESENHA DO FILME 'O ADVOGADO DO DIABO' (MAX WEBER - "Ciência como vocação" e "A ética protestante e o espírito do capitalismo")
A
grandiosa ideia da trama está na virtude da argumentação. No Ethos construído
com 

eloquência e persuasão, capaz de modificar a percepção da realidade e assim
transformá-la em qualquer outra coisa.
Contratado pelo dono da maior e melhor empresa de
advocacia estadunidense, Kevin Loma, o advogado que não conhecia derrota nos
tribunais se encontra na posição mais alta alcançada pelos funcionários daquela
empresa. Sua vida conjugal e seu padrão social saltam para o apogeu e o sucesso
profissional está aos seus pés.
Pensando a “ciência como vocação” relacionando com o filme me vem também
a questão: O que se oferece ao profissional advogado para que este almeje o
“papado” em sua profissão? Weber questiona o que tem a ciência de interessante
para oferecer a um jovem cientista se não nada além de sua efêmera vocação. Em
contraste com a posição de sua mãe, nosso jovem advogado se atira de corpo e
alma na mais gratificante aventura de sua vida. Neste ponto nos encontramos com
princípios éticos religiosos. Tais valores religiosos são abortados pelo nosso
protagonista em virtude de sua pretensa nova vida. O sucesso que lhe sorrir.
Valores como o amor de sua esposa e de sua mãe são substituídos pela intensa
carga de trabalho. Os desafios possuem garras afiadas, mas o nosso advogado
está atento ao brilho aguçado dessas provocações. Weber admite que na
“provocação” está a possibilidade do sucesso. O acaso é mister, entretanto,
é o desencantamento que proporciona a derrocada da mística e a ascensão
da ciência. Entenda-se ciência aqui como a determinação e empenho de nosso
jovem defensor nas suas relações.
O
aspecto carismático manifesto do patrão de nosso jovem protagonista se evidencia
durante toda a trama. Para Weber esses aspectos estão entrelaçados, há momentos
de total legalidade, carisma e tradição. O filme relata que a empresa de
advocacia é bem abalizada, detém prestígio e poder.
Aos olhos do pensamento
de Weber em “a ética protestante e o espírito do capitalismo” onde o
capitalismo moderno é nativo do universo protestante e em particular do
Calvinismo, o contexto do filme apresenta dois quadros que marcam bem o que
Weber quis nos dizer. Vejamos. A mãe de nosso neófito defensor é tipicamente
uma pessoa católica, retratada com suas convicções puritanas de moral e
costumes. O provável doutrinamento calvinista pode ser, por analogia, observado
na selvageria capitalista em que o nosso advogado se meteu ao chegar a Nova Iorque.
O significado dessa selvageria seria compreendido por Weber como uma prática
anterior aos caprichos capitalistas. A educação voltada para um tecnicismo,
apelando para o processo de qualificação e especialidades, abandonando a vida
agrária, das obras tradicionais, como o artesanato. Assim, se percebe no filme
analisado, não claramente, mas sob determinado aspecto e este é o da
qualificação, especialização, que o nosso falador determinado remete-se ao
mesmo indivíduo com pretensões diferenciadas que o Max Weber apresenta. Tais
sinais, como a prosperidade, seriam a evidência de que há um Deus que não só
salva, mas também promove uma vida de bens e bonança. O trabalho é a pedra
fundamental por onde se canaliza toda a vontade do Deus soberano.
Há também já se aproximando do final do
filme uma forte ênfase no livre arbítrio. A teoria que predetermina a salvação
dos fieis está inculcada na teoria calvinista mas para isso deveria haver um
sinal claro para essa salvação e esse sinal seria então o sucesso alcançado
pela determinação do fiel no trabalho e sua evidente melhoria de vida. Caso
esse fiel não alcançasse o êxito seria um predestinado ao inferno. E mesmo que
sua vida tenha lhe rendido alguns louros, sim, deus estava apenas testando esse
infeliz.
Entretanto o capitalismo visto pela
égide de Karl Marx está muito distante do que anuncia Weber. Os meios de
produção, o lucro ou a mais valia, a luta de classes, e o poder do Estado, são
pontos que se distinguem das observações Weberianas. É na ação social que se
identifica o centro nervoso do capitalismo, é na relação social, às vezes unilaterais,
às vezes bilaterais, e também às vezes entrelaçadas, que se constroem os
complexos processos de um capitalismo moderno. Se observado desde sua primeira
obra em que a derrocada de uma cultura – que antes nada dizia de concreto ao
contemporaneismo – foi sua cauterização para suas ideias de uma sociologia da
compreensão, então, deve-se acreditar que é possível um conhecimento histórico
e/ou científico tornarem mais objetivos os acontecimentos e suas análises.
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