LÊNIN - O ESTADO E A REVOLUÇÃO Vladímir Ilítch Uliânov (Lênin)
TEORIA POLÍTICA - TERCEIRO PERÍODO
“O socialismo deverá inevitavelmente transformar-se
de modo gradual em comunismo, em cuja bandeira figura este lema: “De cada um segundo as suas capacidades, a
cada um segundo as suas necessidades.” (Fonte: Obras Escolhidas em Três Tomos, 1978, t2, pp
21-48. Edições Avante! — Lisboa, Edições Progresso — Moscovo)
1. A que se propôs Lênin ao escrever sobre o “Estado e
a Revolução” na opinião do sociólogo Florestan Fernandes?
R/
A Rússia vivia tempos pós-revolução e de
efetivação da nova política e o Estado e a Burguesia exerciam algum tipo de
controle sobre a sociedade. Lênin aparece para resgatar o pensamento de Marx e
Engels e reintroduzir a doutrina marxista com o controle pelo proletariado ao
sistema em curso. Bem antes, é certo que Lênin havia escrito “As tarefas do
proletariado em nossa Revolução” edificando as bases e provocando muita
discussão no seio do partido. Com o “Estado e a Revolução” Lênin “quer a
revolução socialista com os homens tais como são hoje. Era preciso ir direto à
consciência das massas e converter o
marxismo em uma força política real, revolucionária em sua forma, em
suas conseqüências e em sua marcha para diante. Em segundo lugar, era
preciso limpar o terreno. De um lado, afastando o centro da reflexão teórica e
da atividade prática de qualquer concessão reformista. Quando se pode tomar o
poder revolucionariamente não se deve ficar com um sucedâneo do poder
revolucionário. De outro, demarcando os limites que separam teorias afins ou
convergentes mas que são opostas entre si e se excluem na prática política.
Quando se pode tomar o poder revolucionariamente impõe-se combater todas as
confusões e todas as esperanças falsas. As
utopias podem ser perigosas e a revolução proletária não pode entregar-se ao
erro de fortalecer o inimigo encastelado por trás do poder do Estado
capitalista.”
Lênin não retoma, apenas, o que se
poderia designar como as ideias fundamentais de Marx e Engels sobre o Estado
capitalista, em suas diversas formas políticas, e a ditadura do proletariado. Se
for verdade que ele não cria uma "nova teoria", realizando um salto
sobre o pensamento básico que lhe serve de ponto de partida, é preciso
reconhecer-se o que ele fez de original.
Primeiro, no terreno da
sistematização: cabe-lhe o
mérito de ter codificado (ou sistematizado) as descobertas, conclusões e
ensinamentos práticos de Marx, Engels e outros pensadores marxistas, nessa área
tão essencial para a explicação e a transformação da realidade, Ao
sistematizar, ele saturou claros, superou lacunas e, principalmente, atualizou
a teoria com que lidava, pondo-a em dia com as exigências do século XX. Embora
na discussão de textos apanhe como ponto de referência a Comuna, o capitalismo
competitivo ou as formas políticas do Estado capitalista do século XIX, o pensamento político de Lênin opera a
partir e contra o desafio do capitalismo da "era do imperialismo".
Segundo, graças a seu papel criador na esfera lógica da
codificação (ou da sistematização) da teoria.- teve de demarcar a importância relativa de certas
concepções políticas no corpus teórico do marxismo. Atente-se, a este
respeito, para a compreensão e a interpretação da conquista do poder pelo
proletariado, do tipo de Estado resultante da ditadura do proletariado, das funções
desse Estado de democracia de maioria (e do significado político dessa mesma
democracia, destinada à superação e à destruição) e do definhamento do Estado
mediante o desenvolvimento socialista e a implantação do comunismo.
Terceiro,
no terreno puramente prático: nenhum estrategista político ou estadista
chegou a cruzar tão bem as fronteiras mútuas entre teoria e prática e, o que é
crucial, nenhum analista político encontrou na prática uma comprovação tão
completa da teoria. As Teses, as tarefas do Proletariado em nossa Revolução, o
êxito do Partido Comunista na ''Revolução de Outubro ", a vitória sobre a
contra-revolução (incluindo-se nesta também o cerco impiedoso da Entente) e as
previsões sobre os ziguezagues ou as dificuldades do desenvolvimento socialista
ulterior comprovam o quanto é correta sua
formulação final da teoria marxista do Estado e da revolução proletária. Em
conjunto, este breve arrolamento sugere algo patente: o fogo de combate não
impediu que “O Estado e a Revolução” viesse a contar seja na história
intelectual das revoluções seja na história da construção de teoria nas
ciências sociais. Os que não enxergam isso necessitam alterar sua ótica, para
ver a ação propriamente política como uma fonte de observação, análise e
verificação de conhecimentos sobre processos políticos em determinadas
condições históricas.
2. Diante do pressuposto de que havia uma distorção
direta dos ensinamentos de Marx e Engels, como afirma Lênin, no "kautskysmo"
que imperava na Rússia, o que levou o autor a combater este pensamento?
R/
A urgência se dava por uma só via: A
burguesia estava se apropriando da teoria e a transformando em uma fraude. “Dá-se
com a doutrina de Marx, neste momento, aquilo que, muitas vezes, através da
História, tem acontecido com as doutrinas dos pensadores revolucionários e dos
dirigentes do movimento libertador das classes oprimidas. Os grandes
revolucionários foram sempre perseguidos durante a vida; a sua doutrina foi
sempre alvo do ódio mais feroz, das mais furiosas campanhas de mentiras e
difamação por parte das classes dominantes. Mas, depois da sua morte, tenta-se
convertê-los em ídolos inofensivos, canonizá-los por assim dizer, cercar o seu
nome de uma auréola de glória, para "consolo" das classes oprimidas e
para o seu ludíbrio, enquanto se castra a substância do seu ensinamento
revolucionário, embotando-lhe o gume, aviltando-o. A burguesia e os oportunistas
do movimento operário se unem presentemente para infligir ao marxismo um tal
"tratamento". Esquece-se, esbate-se, desvirtua-se o lado
revolucionário, a essência revolucionária da doutrina, a sua alma
revolucionária. Exalta-se e coloca-se em primeiro plano o que é ou parece
aceitável para a burguesia. Todos os social-patriotas (não riam!) são, agora,
marxistas. Os sábios burgueses, que ainda ontem, na Alemanha, se especializavam
em refutar o marxismo, falam cada vez mais num Marx
"nacional-alemão", que, a dar-lhes ouvidos, teria educado os
sindicatos operários, tão magnificamente organizados, para um guerra de rapina.”
3. Para Marx e Engels estava claro que o Estado é o “produto
e a manifestação do antagonismo inconciliável das classes. O Estado aparece
onde e na medida em que os antagonismos de classes não podem objetivamente ser
conciliados. E, reciprocamente, a existência do Estado prova que as
contradições de classes são inconciliáveis.” Assim como, para Lênin, também
havia clareza nesse ponto. Como Lênin expôs o pensamento sobre a forma do
Estado se comportar em contrassenso com a real teoria marxiana?
R/
A deformação do marxismo está
configurada na oposição ao pensamento de que o Estado é fruto e revelação da
incompatibilidade de classes. A classe burguesa que corrigir Marx. Afirma ele
que “De um lado, os ideólogos burgueses e, sobretudo, os da pequena burguesia,
obrigados, sob a pressão de fatos históricos incontestáveis, a reconhecer que o
Estado não existe senão onde existem as contradições e a luta de classes, "corrigem" Marx de maneira
a fazê-lo dizer que o Estado é o órgão da conciliação das classes.” “Para os professores e publicistas burgueses e
para os filisteus despidos de escrúpulos, resulta, ao contrário, de citações
complacentes de Marx, semeadas em profusão, que o Estado é um instrumento de
conciliação das classes.” “Para os políticos da pequena burguesia, ao
contrário, a ordem é precisamente a conciliação das classes e não a submissão
de uma classe por outra; atenuar a colisão significa conciliar, e não arrancar
às classes oprimidas os meios e processos de luta contra os opressores a cuja
derrocada elas aspiram.”
4. Segundo Engels qual é o segundo traço característico
do Estado?
a) A defesa da propriedade Feudal em nome da família
burguesa.
b) Uma comissão de servidores armada destinada a mediar
conflitos.
c) Uma instituição de poder, distante da sociedade, e força
armada. (X)
d) Todos os integrantes da revolução Russa, menos os
artesãos.
5. Como está desenvolvida essa força armada do Estado
segundo o pensamento de Engels:
R/
Segundo Engels essa força armada é o
próprio Estado. Sua característica principal é opor-se a uma classe social (o
proletário) e defender a outra (o Burguês). Entretanto, a questão que se
levanta é essa força armada (polícia e exército) poderia ser de outra forma? A
resposta a essa questão é que para a a maioria dos europeus naquela ocasião não
havia como pensar que as massas espontaneamente pudessem ter armas. Daí a
necessidade de se constituir um Estado de poder e força armado.
6. O que significa e qual o destino, para Engels, da
adjetivação “máquina governamental”?
R/
Para Engels com a escalada do movimento
socialista, com o firmamento do sistema comunista peças da velha engrenagem
burguesa capitalista estarão fadadas a servirem de peças, nada mais que isso,
já obsoletas expostas em um museu. Com a marcha gradual e constante da
revolução em questão a do proletariado as classes antagônicas findaram sendo
abolidas naturalmente. Estas estarão expostas no museu para deleite e reflexão
de uma geração moldada por novos conflitos, novas conquistas e novos sonhos.
Assim também deverá estar exposta a “máquina governamental”. Obsoleta e
nostálgica de uma época de lutas e desigualdades.
7. Como se dará a extinção real do Estado no processo
de definhamento citado por Engels, já que os meios de produção, riqueza da
classe burguesa, são a vitrine do
sistema para o capitalismo?
a) Os meios de produção passam a ser governados pelos
Militares proletáriados.
b) Os meios de produção escoam agora nas mãos de
proletários burgueses.
c) Os meios de produção transferem-se para os
proletários naturalmente e sem violência.
d) Os meios de produção, nas mãos dos proletários, são
transformados em propriedade do Estado.
8. Por que Engels tratou de se posicionar contra o
atual governo revolucionário na Rússia e em que partes do texto ficam claras
que essa intervenção foi necessária para um aperfeiçoamento da teoria de Marx e
Engels.
R/
A pequena burguesia ainda viva na Rússia
socialista estava distorcendo as premissas revolucionárias criadas por Marx e
Engels. Aliados no governo impediam o avanço da revolução e desmitificavam o
teor revolucionário e distinto do novo governo. O que havia era um governo de
coligação. Neste ponto havia uma
discrepância imensa com relação ao tratado marxiano engeliano. Neste ponto do
texto sobre a economia fica claro que “"Na República democrática" -
continua Engels - "a riqueza utiliza-se do seu poder indiretamente, mas
com maior segurança", primeiro pela "corrupção pura e simples dos
funcionários" (América), depois pela "aliança entre o Governo e a
Bolsa" (França e América).” E ainda “A onipotência da "riqueza"
é tanto melhor assegurada numa república democrática quanto não está sujeita a
uma crosta acanhada do capitalismo. A república democrática é a melhor crosta
possível do capitalismo. Eis por que o capital, depois de se ter apoderado
dessa crosta ideal, graças aos Paltchinski, aos Tchernov, aos Tseretelli e
consortes, firmou o seu poder de maneira tão sólida, tão segura, que nenhuma
mudança de pessoas, instituições ou partidos, na república democrática
burguesa, é suscetível de abalar esse poder.”
9. Como se dará a abolição do Estado burguês,
respectivamente, como se dará a abolição do Estado proletário (ditadura do
proletariado)?
a)
Pelo fim dos
meios de produção, respectivamente, pelo esclarecimento.
b)
Pela ação
violenta dos militares, respectivamente, pela militarização.
c)
Pela revolução
violenta, respectivamente, pelo definhamento. (X)
d)
Pela ação
comunista, respectivamente, pelo comunismo.
10. Nos conceitos dos oportunistas governantes, segundo
Engels, o proletariado, o trabalhador moderno teria a necessidade de Estado. Este
Estado não seria a ditadura do proletariado. O Estado seria uma instituição
pacífica que traria à sociedade pós-revolução a sensação segurança. Para Engels
qual foi o grande equívoco dos socialista-revolucionários quando passaram a
expor essa doutrina?
R/
Eles, os oportunistas, esqueceram de
acrescentar que “primeiro, o proletariado, segundo Marx, só tem necessidade de
um Estado em definhamento, isto é, constituído de tal forma que comece sem
demora a definhar e que não possa deixar de definhar; depois, que o Estado de
que os trabalhadores precisam não é outra coisa se não "o proletariado
organizado como classe dominante".
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